domingo, 4 de setembro de 2011

Minhas inquietaçoes(1)

Baseado de um texto de Álvaro de Campos in"poemas"
Heterônimo de Fernando Pessoa.
Descaracterizado por mim(Jalini Coelho).


Ah, perante esta única realidade, que é o Mistério.
Perante essa única realidade terrível- a de haver uma realidade.
Minha inteligência tornou-se um coraçao cheio
de pavor,
E é com minhas idéias que tremo, com a minha consciência de mim,
com a substância essencial do meu ser abstrato
Que sufoco de incompreensível,
Que me esmago de ultratranscendente,
E deste medo, desta angústia, deste perigo do
ultra ser,
Nao se pode fugir, nao se pode fugir, nao se pode fugir!

Cárcere do ser, nao há libertaçao de ti?
Cárcere de pensar, nao há libertaçao de ti?

Ah, nao nenhuma - nem morte, nem vida!
Ah, se afronto confiado a vida, a incerteza da sorte.
Sorridente, impensando, a possibilidade quotidiana de todos os males,
Inconsciente o Mistério de todos as coisas e de
todos os gestos,
Porque nao afrontarei sorridente, inconsciente,
a morte?

Ignoro-a? Mas que é que eu nao ignoro?

A pena em que pego, a letra que escrevo,
o papel em que escrevo; Sao mistérios menores
que a morte?
Como se tudo é o mesmo mistério?

E eu escrevo, estou escrevendo, por uma necessidade sem nada.


Jah Coelho